Curiosidades sobre Caruaru - PE.

CURIOSIDADES SOBRE CARUARU - PE.

Artigo do médico caruaruense Dr. Waldênio Porto, filho do Sr. Altair Porto, no País de Caruaru.

A primeira enfermeira do Brasil

Já era do meu conhecimento, sabia de minhas pesquisas históricas, mas deixei chegar o Sesquicentenário de Caruaru para revelar e tornar público o fato, restaurar enfim a verdade histórica. Quando resolvi escrever o romance histórico "Quando se Cobrem de Verde as Baraúnas", tendo como cenário a epidemia do "cólera morbus", em Caruaru, no ano de 1855, encontrei Maria Francisca de Albuquerque, personagem extraordinária que viveu à época e teve um papel marcante naqueles dias.
O Governo Imperial mandou vir então da França o Dr. Jean Barthelemy Pegot, de Marselha, que foi enviado a Caruaru. Ali enfrentou bravamente o flagelo que se abateu sobre a vila. Ficou alojado na casa de Antônio Florêncio de Carvalho Ametista, o único caruaruense que sabia falar francês.
Naqueles dias de sofrimento, enquanto todos fugiam e desesperavam, Maria Francisca de Albuquerque apresentou-se como voluntária. Foi treinada pelo doutor francês de Marselha, contratado por Pedro II para combater o terrível flagelo que se abatia sobre o Império. E passou a socorrer e tratar tanto os brancos como os negros escravos, que, em reconhecimento, passaram a chamá-la de Mãe Quinha.
Muitos foram os que morreram enfrentando o "cólera morbus", dentre os quais se destacam o Vigário Antônio Jorge Guerra, o Diretor da Salubridade Pública José Maria Brayner, o Promotor Dr. João Evangelista.
Escapou Mãe Quinha, a extraordinária Mãe Quinha, mulher do povo, figura cuja memória tem de ser reabilitada neste Sesquicentenário. Descrevi-a assim no romance:
O Dr. Pegot no auge da epidemia. Atendia sem parar à multidão, no consultório em que se transformou a casa de Carvalho Ametista.
" - Pronto. O Dr. Pegot teve uma folga, agorinha. Chegue pra cá Maria Francisca! diz o dono da casa, entrando na sala de jantar, acompanhado do francês. - Também o homem tem que tomar um fôlego. Senão entupigaita de vez. Essa moça, Dr. Pegot, se chama Maria Francisca de Albuquerque. Destemida. A única que atendeu ao apelo que nós fizemos com Zé Brayner em frente da igreja. Diz que quer ajudar. Veio procurar Monsieur para receber instruções e treinamento.
- Maria Francisca de Albuquerque, sua criada, Dr. Pegot. Tenho medo não, doutor. Nunca adoeci. Se tiver de morrer é porque Deus quis! Vejo Monsieur vir de tão longe, das Europa. O Dr. João Evangelista também, que chegou do Recife a bem dizer ontem. Não se arredam dos doentes. Estão aí em todo canto, pra o que der e vier! Que dirá eu, que sou daqui do Caruru?! Vou negar fogo não!
O Dr. Pegot sorri, com doçura. Balança a cabeça, lentamente, em sinal de aprovação. Estende-lhe a mão."
Ana Nery, modelo e paradigma das enfermeiras do Brasil, só surgiu em plena guerra do Paraguai, que começou em 1865, dez anos depois de Maria Francisca de Albuquerque. A nossa caruaruense Mãe Quinha, foi, com muito mérito e brio, historicamente, a primeira enfermeira do Brasil. Este o momento de restaurar-se a verdade, reconhecendo a primazia de uma filha de Caruaru. Que se proclame, exalte e destaque.
Na mesma época do cólera em Caruaru houve a Guerra da Criméia. Florence Nightingale, uma inglesa, integrou o corpo de enfermagem britânico em Scutari, na Turquia. É tida e havida como o símbolo da enfermagem mundial. Não havia escola de enfermagem então. Aquelas moças, por várias circunstâncias, foram treinadas por médicos em diversos países, atendendo as suas tendências e sentido de fraternidade humana. No nosso país é preciso se restabelecer, em verdade, o fato histórico. Em Caruaru, Pernambuco, surgiu a primeira enfermeira do Brasil. O Instituto Histórico de Caruaru deve homenageá-la com o nome de Mãe Quinha, a Escola de Enfermagem. Que nome carinhoso e agradecido dos negros escravos desgraçados, acometidos pela epidemia, chamar a Maria Francisca de Albuquerque.

Waldênio Porto
Presidente da Rede de Integração das Academias Letras do Nordeste da Academia Pernambucana de Letras

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Em 1855 surgiu no Brasil em caráter epidêmico a doença cólera-morbo que logo atingiu Pernambuco, causando centenas de mortes, ocasião que o Governo Imperial recorreu à contratação de enfermeiros e farmacêuticos franceses, especialmente para o trabalho no interior do Norte e do Nordeste brasileiros.

Entre os contratados encontrava-se Jean Barthlemy Pegot (1824 - 1895), nascido na zona rural da cidade francesa de Marselha, sudoeste da França, que foi encaminhado para trabalho na nossa cidade em setembro de 1855. Depois de muito trabalho, em meados de 1856, Jean Pegot conseguiu reduzir a fúria do cólera-morbo utilizando sais químicos e medicamentos trazidos da Europa, atendendo indistintamente ricos e pobres.

Durante esse tempo, Jean Pegot ficou hospedado na casa do rábula Antônio Florêncio de Carvalho Ametista, único caruaruense que sabia falar francês, residente à Rua da Frente e, pouco depois, ele mesmo, uma das vítimas do cólera-morbo. Na casa de Ametista, Jean Pegot conheceu sua filha, a jovem Ana Emília Florêncio de Carvalho Ametista (1848 - 1925) por quem terminaria se enamorando. Extinguido o cólera-morbo o seu contrato também terminava, porém preferiu fixar residência na cidade, pedindo pouco depois Ana Emília em casamento, que foi celebrado no ano de 1860 quando a jovem contava apenas 12 anos.

Ainda em março de 1856, Jean Pegot, após autorização da Câmara de Vereadores, abriu a famosa Pharmacia Franceza, a primeira farmácia de Caruaru, pois as que existiram anteriormente eram apenas boticas. Seu primeiro endereço, nos primeiros três anos, foi na esquina do lado esquerdo da Rua dos Expedicionários com a Rua do Comércio. Seu segundo endereço, a partir de 1859, foi no sobrado mandado construir pelo próprio Jean Pegot, já com dois pavimentos, usando na fachada principal, material importado da Europa - peras, azulejos, varanda de ferro trabalhado e as vidraças das portas superiores, visto a direita da foto.

No pavimento térreo situavam-se as prateleiras das drogas, o laboratório para aviamento das receitas, o balcão de ferro, as banquetas de couro para a turma do plantão e, na parte posterior, o salão destinado aos casos graves ou urgentes, necessitados de intervenção cirúrgica.

Por tudo isso, o beco visto na foto seguinte, a esquerda da farmácia, que ligava a Rua da Frente ao início da Rua Duque de Caxias, ficou conhecido, inicialmente como Beco de Jean Pegot e, após sua morte, como Beco de Donaninha, nome pelo qual era conhecida dona Ana Pegot. No início do século XX, também foi conhecido por Beco de Dona Elvira (morava no sobrado do lado esquerdo do beco) e, a partir de 1911, até metade do século XX, de Beco do Major Sinval. A partir da segunda metade do século XX, de Beco do Ouvidor, depois Beco da Estudantil, Beco da Pequena de Ouro, embora oficialmente tenha o nome de Rua Ana de Albuquerque Galvão.

Jean Pegot e Dona Ana não tiveram filhos e por isso adotaram, por ocasião das suas bodas de prata, dois filhos. Inicialmente foi adotado Manoel de Freitas Torres dos Santos e, a seguir, após o falecimento de uma irmã de Donaninha - Maria Crisólita - o seu sobrinho, Sinval Florêncio de Carvalho Santos, que contava apenas 8 anos de idade.

Nos seus 40 anos de Caruaru, Jean Pegot, além de farmacêutico, também trabalhou como médico, parteiro, cirurgião e professor de francês, aliás, o primeiro de língua estrangeira da cidade. Jean Barthlemy Pegot, hoje um mero desconhecido de grande parte da nossa sociedade, foi sem dúvida, um dos grandes nomes da bela e rica história da cidade de Caruaru.


O vigário Antônio Freire de Carvalho, que dá nome à rua, era natural da cidade de Assu no Rio Grande do Norte onde nasceu em 12/06/1821. Ordenou-se padre no Seminário de Olinda em 1844. Iniciou seu magistério sacerdotal na sua cidade natal, a seguir na Vila de Mossoró - RN, sendo inclusive o primeiro presidente da sua Câmara de Vereadores.
Em 1856, após período de férias em Recife, onde se encontrava, foi despedir-se de seu superior Dom João da Purificação Perdigão, Bispo de Olinda. Ocasião, que este no momento final da despedida, era a segunda-feira de carnaval do dia 04/02/1856, perguntou se ele sabia o que tinha acontecido em Caruaru, é que tinham falecido o padre Antônio Jorge Guerra, 1º vigário de Caruaru em 28/01/1856 e logo a seguir seu coadjutor padre Antônio José de Brito em 31/01/1856, vítimas da epidemia de cólera, que que assolava a região.
Após resposta afirmativa, o bispo voltou a perguntar, dessa feita, se aceitava ser transferido para Caruaru, ao mesmo tempo dando prazo até a quarta-feira de cinzas, para sua resposta. Porém, já na terça-feira o jovem padre confirmava sua aceitação. Após 12 dias de viagem montado em um cavalo, chegou em Caruaru no dia 19/02/1856. Foi assim, com um ato de extrema coragem e renúncia que começou e duraria cinquenta e dois anos, o caso de amor e dedicação a cidade que o padre Antônio Freire de Carvalho adotou como sua. 
No ano seguinte foi nomeado vigário, tornando-se assim o 2º vigário da cidade. Devido a sua pequena estatura era carinhosamente chamado “Vigarinho”. Morava na última casa do lado esquerdo deste primeiro quarteirão, na esquina com a atual Rua dos Expedicionários, onde existe placa alusiva. Durante toda sua existência participou ativamente da vida religiosa, política e social da cidade, sendo inclusive, em 1896, um dos fundadores da Sociedade Musical Nova Euterpe. Na política, na qualidade de líder do Conselho de Intendência, desde que gozava da confiança de todos, coordenou a eleição do primeiro prefeito constitucional da cidade. No ano de 1879, em viagem de regresso a sua cidade natal, um escravo que o acompanhava, de nome Basílio Felipe da Paz, trouxe no lombo do seu cavalo mudas de "aveloz", uma planta que mudaria para sempre a paisagem da cidade. Vigarinho faleceu em Caruaru no dia 28/02/1908.


EXECUÇÃO POR ENFORCAMENTO EM CARUARU.

A área compreendendo a atual Praça do Rosário e o Cafundó - na época era tudo um só descampado - era conhecida no século XIX como LARGO DA FORCA, pois era nesse local que aconteciam, em Caruaru, as execuções por enforcamento.

No dia 26 de janeiro de 1859, uma quarta-feira, conforme artigo publicado no Diário de Pernambuco do dia 04 de fevereiro de 1859, o escravo Quirino foi executado por enforcamento, neste largo, por crime de parricídio. Essa execução - talvez tenha sido também a primeira, não existem dados claros - foi a última acontecida em Caruaru.

Na hora marcada para execução, por volta das 10 horas da manhã, em frente a cadeia pública, que ficava situada na atual Rua São Sebastião, se reuniram uma grande multidão de curiosos atraídos pelo acontecimento, a força policial da época, composta por praças (soldados) e pela Guarda Nacional, o condenado Quirino, além do também prisioneiro Florêncio José Baptista, no papel de carrasco.

“Quando o porteiro do Júri começou a ler a sentença que condenou o infeliz Quirino a pena de morte, por haver assassinado seu velho pai, começaram todos a seguir em direção à forca, no Cafundó, em um terrível silêncio, onde apenas se ouvia a voz do porteiro".

"Todos os olhares estavam fixados no negro Quirino. A sua direita caminhava o vigário Antônio Freire de Carvalho - o Vigarinho - e logo atrás o preso Florêncio José Baptista, que na destra (mão direita) carregava a corda que pendia do pescoço do infeliz".

"O silêncio dominava, a multidão crescia e o protagonista deste lúgubre acontecimento era indiferente a tudo que o cercava”.

Quando chegaram ao local da execução, a força policial tomou o lugar que a lei determinava, e o negro Quirino: "Caminhou com passo firme para junto da forca, de onde pediu perdão a todos quantos havia ofendido com seu crime e declarou que de todo o coração perdoava a todos aqueles que haviam concorrido para sua morte".

"Subiu a escada com facilidade e só no alto o carrasco principiou a sua missão de amarrar a corda com um laço que devia tirar-lhe a vida, ao que se prestou o infeliz sem a menor repugnância”.

“A ansiedade da multidão crescia, um movimento surdo e continuado se fez ouvir em todo o espaço ocupado pela multidão, que testemunhava a ação da lei sobre um criminoso, o carrasco segurando o infeliz pelos pés, o fez girar sobre si mesmo”.

“Não é possível descrever o que no momento se passou no interior de tantos indivíduos de condições diversas e do pobre infeliz, que impelido pela força do carrasco e repelido pela fraqueza da corda, ficou estendido no chão”.

É que tinha rompido a corda.

“Um brado de misericórdia meu Deus”, se fez ouvir... eram as mulheres, homens e meninos, horrorizados com o ato.

“O infeliz foi de novo guiado para o sacrifício, para consumação do qual havia sido destinado, dessa vez ajudado, pois já se encontrava ferido, subiu pela segunda vez a escada, onde novo laço prendeu-lhe o pescoço, que se deslocando deu a morte ao infeliz, que hoje ocupa espaço nas entranhas da terra”.

“Consummatum est! A sociedade está vingada e a lei foi cumprida”.

“Em todo o correr desse drama horroroso, o Vigário Freire, que sempre o visitava em dias continuados, desde a sua condenação, procurava através de palavras cheias de unção arrancar uma alma da perdição, enquanto lágrimas profundas de dor intensa banhavam o seu rosto. A caridade, essa santa virtude que faz dos fracos fortes, dos pobres ricos, exprime tudo quanto se pode dizer do padre Antônio Freire de Carvalho”.

Encerrando o autor do artigo, não identificado, mas que provavelmente deve ter sido o correspondente, na época, do Diário de Pernambuco na nossa cidade, que adotava o pseudônimo de Pedro Trancoso, escreveu:

“O Dr. José Maria Freire Gameiro Júnior, juiz municipal e das execuções criminais procedeu, como funcionário que se compenetra do cumprimento de seus deveres”.


 Em 19 de novembro do ano de 1944, o arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Miguel de Lima Valverde, no salão nobre do Clube Intermunicipal de Caruaru, reuniu elementos destacados da sociedade e formou a comissão pró-bispado para prosseguir com os encaminhamentos, visando à criação de um novo bispado na cidade.

O documento oficial foi assinado por Dom Miguel ainda no dia 27 daquele mês e publicado no boletim mensal da arquidiocese do mês seguinte, em dezembro de 1944. O teor inicial é o seguinte: “É desejo da grande população católica do agreste pernambucano e também nosso, pedir à Santa Fé a criação de um novo Bispado com sede na próspera e futurosa cidade de Caruaru”.

Finalmente, após quase quatro anos, em 07 de agosto do ano de 1948, através da Bula "Quae Maiori Christifidelium" o Papa Pio XII erige canonicamente o novo bispado, a Diocese de Caruaru.

A escolha do nome do primeiro Bispo de Caruaru ocorreu no dia 15 de março de 1949, recaindo sobre a pessoa de dom Paulo Hipólito de Souza Libório, que à época era vigário geral de Teresina, no Piauí. A posse de Dom Paulo ocorreu no dia 15 de agosto de 1949, na Catedral de Nossa Senhora das Dores, no pontificado de Pio XII.

Em verdade, os passos preliminares para criação da Diocese de Caruaru tinham começado antes de 1944, de várias pessoas católicas moradoras da cidade, com a natural concordância do vigário da paróquia e do arcebispo da arquidiocese de Olinda e Recife, contando com o apoio do filho do chefe político de Caruaru (cel. João Guilherme de Pontes), o engenheiro Gercino Malagueta de Pontes.

No dia 8 de setembro de 1944, o então prefeito do município, Manoel Afonso Porto Filho, assinou o projeto de decreto-lei de número 3, integrado por dois artigos:

“Artigo 1 - Fica a Prefeitura autorizada a permutar com a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, o prédio de propriedade do Município, edificado em terreno pertencente à mesma paróquia e onde atualmente está sediada a Prefeitura, por um sobrado construído em alvenaria de propriedade daquela mesma paróquia, sito nesta cidade à rua Vigário Freire, nº 46, com frente para a Praça Deputado Henrique Pinto”.

“Artigo 2 – Na escritura do contrato de permuta a ser lavrado, será incluída uma cláusula pela qual se reservara à Prefeitura o direito de rescindir o aludido contrato, no caso de não ser levada a efeito a criação do bispado em Caruaru”.

Acompanhava o projeto Nº 3, justificativa que assegurava ser objeto de cogitação dos católicos caruaruenses a criação de um bispado em Caruaru no ano de 1948, comemorativo ao primeiro centenário de criação da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, ainda mencionava o ofício recebido no dia 24 de fevereiro de 1944, dirigido pelo Pároco de Caruaru ao Exmo. Sr. Interventor Federal, onde estava colocado o desejo dessa permuta.

Por sua vez, também afirmava que a prefeitura pretendia construir, entre 1945 e 1947, um novo e amplo edifício para sua sede, antes ainda da criação do bispado. Alegava também que o atual prédio da seda da Prefeitura já era insuficiente para os serviços da Municipalidade, pelo que concluia: “esta Administração, indo de encontro da aspiração do povo desta cidade, concorda com a permuta solicitada pelo poder eclesiástico”.

Como na época do Estado Novo, as Câmaras Municipais não funcionavam, as Prefeituras tinham que encaminhar seus decretos para aprovação pelo Governo Estadual. Que neste caso era apenas uma formalidade, desde que Gercino Malagueta de Pontes era Secretário de Viação e Obras Públicas do Estado, isso durante a interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945).

Sendo assim, em pouco mais de duas semanas o prefeito Neco Afonso recebia, em resposta, a aprovação do projeto pelo Conselho Administrativo do Estado, assinado pelo Secretário do Interior, autorizando editar então o Decreto-Lei municipal, que tomou o nº 37, autorizando a permuta do Paço Municipal pelo velho sobrado construído em 1822 e onde havia sido instalado o primeiro hotel de Caruaru de Ioiô Borges e onde anos depois funcionaria a Babearia de João Cara de Porco.

A permuta se fez, o novo edifício da PMC projetado por Neco Afonso jamais saiu do papel, a segunda guerra mundial acabou, o Brasil era redemocratizado e Neco Afonso demitido do cargo de prefeito e como candidato a prefeito eleito, disputava e perdia a eleição para Pedro de Souza.

Antes, porém, de Pedro Joaquim de Souza assumir, o professor José Florêncio de Souza Leão, ocupou interinamente a prefeitura, oportunidade que recebeu ofício da Arquidiocese de Olinda e Recife, a quem a igreja católica de Caruaru, na época, era subordinada, lembrando das tratativas e da primeira preocupação da visita do padre João Monteiro Tabosa a Caruaru, que também assinava o ofício, para localizar a residência do bispo da futura diocese, do entendimento com o então Secretário do Interior, para vir a ser o prédio em que se encontrava a Prefeitura Municipal, o futuro Palácio Episcopal deste Bispado. Mencionando também as negociações da permuta com o governo do Município, a aprovação da ideia pelo Conselho Administrativo Estadual, pelo Governo Municipal, a ciência do arcebispo e, finalmente, a escritura de permuta lavrada, obrigando-se a Prefeitura, expressamente dentro do prazo de três anos, a contar da data da lavratura da referida escritura, a fazer a entrega do edifício onde vem funcionando o Governo Municipal, na Praça Deputado Henrique Pinto, nesta cidade.

Finalmente, recordava que a escritura tinha sido lavrada no 2º Cartório do Tabelião Neco Porto, sendo o registro de transmissão do imóvel realizado no cartório do 1º Ofício, também nesta cidade e, que em poder das partes permutantes ficou uma cópia, como bem devia o prefeito, e insistiu que como se aproximava esse feito, levava ao conhecimento que a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, dentro do que ficou acertado, esperava receber em breve o prédio que lhe cabia por permuta, bem como fazer entrega daquele que por escritura pertencia ao Município, a fim de proceder as adaptações necessárias para que fosse o Paço transformado em residência episcopal, garantindo que os trabalhos de criação do bispado estavam sendo ultimados.

Todavia, não houve tempo útil para alguma providência por parte do professor José Leão, desde que logo a seguir, deixava a prefeitura para assumir o prefeito eleito.

Por sua vez, Pedro de Souza, estava a par das transações ocorridas em torno do bispado, da permuta dos prédios e dos prazos previstos, mas que não escondia o desejo, pelo menos inicialmente, de não se guiar pelos autos.

Toda a Caruaru sabia que os passos iniciais para a criação do bispado, sob aspecto político tinham sido dados pelo Guilhermismo e que a permuta dos prédios só se realizara por intervenção direta do dr. Gercino Malagueta de Pontes, maior adversário da coligação político-partidária pela qual Pedro de Souza tinha sido eleito.

Para Pedro de Souza, desocupar o prédio do Paço Municipal e entregá-lo a Paróquia de Nossa Senhora das Dores equivaleria a uma derrota política, desde que o adversário estava de olho, fixando a questão junto ao eleitorado católico caruaruense, que representava, na época, a quase totalidade da população da cidade.

Na verdade, por baixo dos bastidores, uma surda guerra se desenvolvia, cada litigante querendo exibir-se como o mais interessado em satisfazer o clero e como o verdadeiro benfeitor do bispado, ao mesmo tempo que o clero exigia a entrega do prédio, que por direito, já era seu.

Como última tentativa, após diversas protelações, em 01 de outubro de 1948, através do ofício nº 254, o prefeito Pedro de Souza consultava dom Miguel de Lima Valverde, arcebispo de Olinda e Recife, se face o Decreto-Lei Nº 37 de 1944, o bispo a ser nomeado para Caruaru pretenderia morar de imediato no prédio, ainda ocupado pela Prefeitura, ou se aceitaria promovesse o governo dele, a construção de edifício mais moderno, apropriado, em zona mais adequada aos misteres a que se destina, de paço episcopal. Evidentemente, sem esquecer de dizer no ofício que a solicitação tinha por objetivo único de prevenir a mudança da sede da administração municipal com a devida antecedência.

Mas, dom Miguel de Lima Valverde, percebendo a jogada, no ofício Nº 8, datado de 08 de outubro de 1948, em papel timbrado do Arcebispado de Olinda e Recife, replicou esclarecendo que “no momento nada sabia, nem poderia adiantar sobre o assunto porquanto ainda não chegaram conforme comunicação da Nunciatura Apostólica as Bulas da Criação da Diocese de Caruaru, para serem devidamente executadas, e só então será nomeado o Administrador Apostólico dessa nova Diocese e com ele, V. Excia. tratará do assunto em apreço”.

Depois dessa resposta, Pedro de Souza tratou de acelerar a entrega do prédio, sendo assim que o Paço Municipal virou o Palácio do Bispo.

Apenas complementando, ainda no início de 1950, o prefeito Pedro de Souza se desfez do prédio recebido, através de um leilão.


CÓDIGO DE POSTURA DE CARUARU - 1849

Em 1849 funcionou pela primeira vez a Câmara de Vereadores de Caruaru, sendo instalada no dia 13 de setembro daquele ano. Entre suas primeiras medidas, desde que a Câmara absorvia o legislativo e o executivo, estava a criação e implantação de um Código de Postura. Entre os diversos itens três se sobressaiam:

1º - "De outubro ate findar o verão ninguém pode criar bacorinho no meio da rua."
Ou seja, no inverno podia criar os porcos na rua.

2º - "Não se pode tocar sino entre oito da noite e cinco da manhã da madrugada seguinte, exceto na igreja matriz, e assim mesmo em casos especiais: sacramento, Natal, incêndio e rebate."
As desavenças entre confrarias de Nossa Senhora das Dores e de Nossa Senhora da Conceição estavam no auge.
E, em rebate, pois Caruaru tinha sofrido sua primeira invasão - foram duas - durante a Revolução Praieira, havia poucos meses.

3º - "Cachorro brabo vadiando na rua: quatro mim réis de multa no dono e bola no cachorro."

Fonte: Hélio Florencio – Caruaru Arcaico.


COM RELAÇÃO A FUNDAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR PROFESSOR VICENTE MONTEIRO

Em 1895 o governo provincial (estadual) de Pernambuco lançou uma Concorrência Pública, na época denominada “arrematação”, para construção de um edifício em Caruaru, aonde funcionaria um grupo escolar.

Essa concorrência foi ganha pelo caruaruense José Florêncio da Silva Limeira, que além de major da guarda nacional de Caruaru, foi secretário de finanças da prefeitura no primeiro governo do coronel Manoel Rodrigues Porto, vereador e presidente do Conselho Municipal da cidade (Câmara de Vereadores).

A título apenas de informação, esse cidadão também ganharia a concorrência, no ano seguinte, para construção da nossa segunda Cadeia Pública, que entraria em operação no ano de 1897, no local onde hoje funciona, desde meados da década de 1950, o atual Lactário Amélia de Pontes, que inicialmente tinha sido inaugurado na Rua do Comércio na década anterior.

Sem festas, na época era rara as comemorações para inauguração de prédios ou praças públicas, foi oficialmente entregue a população caruaruense através de publicação do “Regulamento Orgânico da Administração do Ensino Público” de 23 de janeiro de 1896, pelo governador Alexandre José Barbosa Lima. O Grupo Escolar, que inicialmente não recebeu nenhum nome em destaque, era simplesmente conhecido como Grupo Escolar Estadual. Foi edificado na Praça do Rosário, no largo que na época era conhecido como “Largo da Forca”.

Alguns anos depois, após o falecimento em 1910 do abolicionista pernambucano Joaquim Nabuco, em sua homenagem foi denominado de Grupo Escolar Joaquim Nabuco, assim permanecendo até início do ano de 1945, quando no curto período do governo estadual de Etelvino Lins, teve a denominação alterada para Grupo Escolar Vicente Monteiro.

Vicente Monteiro foi um emérito professor das primeiras letras em nossa cidade, nascido em São Caetano, quando ainda era uma vila pertencente a Caruaru, poeta, conferencista, membro integrante da diretoria do Club Literário de Caruaru, amante da boa música, sendo um dos fundadores da quarta banda musical surgida na cidade a “Comercial”, de cuja associação foi o primeiro presidente, além de também ter se dedicado à agricultura, sendo quem pioneiramente incrementou a plantação da “palma” nos campos caruaruenses, planta que iria amenizar a fome do gado nos meses de seca, tão comum em toda a região. Trabalhava de graça para o povo, seja aplicando injeções antiofídicas nos necessitados, seja defendendo os presos pobres da cadeia local, seja distribuindo medicamentos homeopáticos às pessoas sem recursos. Nas horas de folga, dedicava-se a trabalhos de construção de pequenas peças de madeira, realizando verdadeiras obras de arte.

Em 1945, no final do governo do prefeito Neco Afonso, conforme o jornal a DEFESA de 15 de julho daquele ano, “foi feita uma cessão pela edilidade do terreno onde, atualmente está situado o velho Grupo Escolar Vicente Monteiro a um particular, para ser construído um Posto de Lubrificação”, coisa que muito desagradou aos caruaruenses da época.

Em substituição ao prédio cedido foi no dia 21 de outubro de 1945, inaugurada suas novas instalações, no mesmo local onde até hoje permanecem, em terreno doado ao município pelo sr. José de Vasconcelos (dono e fundador da Fábrica Caroá), com o Grupo Escolar começando a funcionar, efetivamente, no novo lugar, no ano seguinte.

Apesar dos percalços com a derrubada do histórico edifício, da mudança de nomes e de endereço, é o Grupo Escolar Vicente Monteiro a mais antiga escola em funcionamento da nossa cidade, tendo completado, portanto, esse ano 121 anos de atividades.


 Prefeitura virou Palácio do Bispo.

Em 19 de novembro do ano de 1944, o arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Miguel de Lima Valverde, no salão nobre do Clube Intermunicipal de Caruaru, reuniu elementos destacados da sociedade e formou a comissão pró-bispado para prosseguir com os encaminhamentos, visando à criação de um novo bispado na cidade.

O documento oficial foi assinado por Dom Miguel ainda no dia 27 daquele mês e publicado no boletim mensal da arquidiocese do mês seguinte, em dezembro de 1944. O teor inicial é o seguinte: “É desejo da grande população católica do agreste pernambucano e também nosso, pedir à Santa Fé a criação de um novo Bispado com sede na próspera e futurosa cidade de Caruaru”.

Finalmente, após quase quatro anos, em 07 de agosto do ano de 1948, através da Bula "Quae Maiori Christifidelium" o Papa Pio XII erige canonicamente o novo bispado, a Diocese de Caruaru.
A escolha do nome do primeiro Bispo de Caruaru ocorreu no dia 15 de março de 1949, recaindo sobre a pessoa de dom Paulo Hipólito de Souza Libório, que à época era vigário geral de Teresina, no Piauí. A posse de Dom Paulo ocorreu no dia 15 de agosto de 1949, na Catedral de Nossa Senhora das Dores, no pontificado de Pio XII.

Em verdade, os passos preliminares para criação da Diocese de Caruaru tinham começado antes de 1944, de várias pessoas católicas moradoras da cidade, com a natural concordância do vigário da paróquia e do arcebispo da arquidiocese de Olinda e Recife, contando com o apoio do filho do chefe político de Caruaru (cel. João Guilherme de Pontes), o engenheiro Gercino Malagueta de Pontes.

No dia 8 de setembro de 1944, o então prefeito do município, Manoel Afonso Porto Filho, assinou o projeto de decreto-lei de número 3, integrado por dois artigos:

“Artigo 1 - Fica a Prefeitura autorizada a permutar com a Paróquia de Nossa Senhora das Dores, o prédio de propriedade do Município, edificado em terreno pertencente à mesma paróquia e onde atualmente está sediada a Prefeitura, por um sobrado construído em alvenaria de propriedade daquela mesma paróquia, sito nesta cidade à rua Vigário Freire, nº 46, com frente para a Praça Deputado Henrique Pinto”.

“Artigo 2 – Na escritura do contrato de permuta a ser lavrado, será incluída uma cláusula pela qual se reservara à Prefeitura o direito de rescindir o aludido contrato, no caso de não ser levada a efeito a criação do bispado em Caruaru”.

Acompanhava ainda o projeto Nº 3, justificativa que assegurava ser objeto de cogitação dos católicos caruaruenses a criação de um bispado em Caruaru no ano de 1948, comemorativo ao primeiro centenário de criação da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, ainda mencionava o ofício recebido no dia 24 de fevereiro de 1944, dirigido pelo Pároco de Caruaru ao Exmo. Sr. Interventor Federal, onde estava colocado o desejo dessa permuta.

Também afirmava que a prefeitura pretendia construir, entre 1945 e 1947, um novo e amplo edifício para sua sede, antes ainda da criação do bispado. Alegava também que o atual prédio da seda da Prefeitura já era insuficiente para os serviços da Municipalidade, pelo que concluía: “esta Administração, indo de encontro da aspiração do povo desta cidade, concorda com a permuta solicitada pelo poder eclesiástico”.

Como na época do Estado Novo, as Câmaras Municipais não funcionavam, as Prefeituras tinham que encaminhar seus decretos para aprovação pelo Governo Estadual, que neste caso era apenas uma formalidade, desde que Gercino Malagueta de Pontes era Secretário de Viação e Obras Públicas do Estado, isso durante a interventoria de Agamenon Magalhães (1937-1945).

Sendo assim, em pouco mais de duas semanas o prefeito Neco Afonso recebia, em resposta, a aprovação do projeto pelo Conselho Administrativo do Estado, assinado pelo Secretário do Interior, autorizando editar então o Decreto-Lei municipal, que tomou o nº 37, autorizando a permuta do Paço Municipal pelo velho sobrado construído em 1822 e onde havia sido instalado o primeiro hotel de Caruaru de Ioiô Borges e onde anos depois funcionaria a Barbearia de João Cara de Porco.

A permuta se fez, o novo edifício da PMC projetado por Neco Afonso jamais saiu do papel, a segunda guerra mundial acabou, o Brasil era redemocratizado e Neco Afonso demitido do cargo de prefeito e como candidato a prefeito eleito, disputava e perdia a eleição para Pedro de Souza.

Todavia, antes de Pedro Joaquim de Souza assumir, o professor José Florêncio de Souza Leão, que ocupava interinamente a prefeitura, recebeu ofício da Arquidiocese de Olinda e Recife assinado pelo padre João Monteiro Tabosa, lembrando as tratativas para localizar a residência do bispo da futura diocese durante sua visita a Caruaru em 1944, do entendimento com o então Secretário do Interior para vir a ser o prédio em que se encontrava a Prefeitura Municipal, o futuro Palácio Episcopal do Bispado, além de mencionar as negociações da permuta com o governo do Município, a aprovação da ideia pelo Conselho Administrativo Estadual e pelo Governo Municipal, a ciência de todo o acordo pelo arcebispo, a escritura de permuta lavrada no 2º Cartório do Tabelião Neco Porto em 1944, o registro de transmissão do imóvel realizado no cartório do 1º Ofício da cidade, as cópias em poder das partes permutantes obrigando dentro do prazo de três anos a Prefeitura a fazer a entrega do edifício, onde ainda vinha funcionando o Governo Municipal na Praça Deputado Henrique Pinto, bem como a Paróquia de Nossa Senhora das Dores fazer a entrega daquele que por escritura pertencia ao Município, com fim de proceder as adaptações necessárias para que fosse o Paço transformado em residência episcopal, ao mesmo tempo que garantia que os trabalhos de criação do bispado estavam sendo ultimados, pelo que pedia as providências finais.

No entanto, não houve tempo útil para tomada de providências por parte do prefeito interino, desde que a seguir deixava a prefeitura para que o prefeito eleito assumisse as funções. Este, por sua vez, que estava a par das transações ocorridas em torno do bispado, da permuta dos prédios e dos prazos previstos, não escondia o desejo de não se guiar pelos autos, com toda a Caruaru sabendo que os passos iniciais para a criação do bispado, sob o aspecto político, tinham sido dados pelo guilhermismo e que a permuta dos prédios só se realizara por intervenção direta do dr. Gercino Malagueta de Pontes, maior adversário da coligação político-partidária pela qual Pedro de Souza tinha sido eleito.

Para Pedro de Souza, desocupar pura e simplesmente o prédio do Paço Municipal e entregá-lo a Paróquia de Nossa Senhora das Dores equivaleria a uma derrota política, desde que os adversários de olho fixavam a questão junto ao eleitorado católico, como os grandes responsáveis pela vinda do bispado. Na verdade, por baixo dos bastidores, uma surda guerra se desenvolvia, cada litigante querendo exibir-se como o mais interessado em satisfazer o clero e como o verdadeiro benfeitor, ao mesmo tempo, que correndo por fora, o clero exigia a entrega do prédio que por direito já era seu.

Como última tentativa, após diversas protelações, em 01 de outubro de 1948, através do ofício nº 254, o prefeito Pedro de Souza consultava dom Miguel de Lima Valverde, arcebispo de Olinda e Recife, se face o Decreto-Lei Nº 37 de 1944, o bispo a ser nomeado para Caruaru pretenderia morar de imediato no prédio, ainda ocupado pela Prefeitura, ou se aceitaria promovesse o governo dele, a construção de edifício mais moderno, apropriado, em zona mais adequada aos misteres a que se destina, de paço episcopal. Evidentemente, sem esquecer de dizer no ofício que a solicitação tinha por objetivo único de prevenir a mudança da sede da administração municipal com a devida antecedência.

Mas, dom Miguel de Lima Valverde, percebendo a jogada, através do ofício nº 8 datado de 08 de outubro de 1948, em papel timbrado do Arcebispado de Olinda e Recife, replicava esclarecendo que naquele momento nada sabia e nem poderia adiantar sobre o assunto, porquanto ainda não tinham chegado conforme comunicação da Nunciatura Apostólica, as Bulas da Criação da Diocese de Caruaru para serem devidamente executadas, após o que e só então seria nomeado o Administrador Apostólico da nova Diocese e somente com ele, V. Excia., deveria tratar do assunto em apreço.

Depois dessa resposta, a Pedro de Souza, sem outra alternativa, restou acelerar a entrega do prédio e, foi assim, que o Paço Municipal virou o Palácio do Bispo.

Apenas complementando, ainda no início de 1950, o prefeito Pedro de Souza se desfez do prédio recebido em troca, através de leilão.


1ª BRIGA POLÍTICA EM CARUARU - 1856/1857

Essa foto, de autoria e data desconhecida, seria segundo o livro “Fatos Históricos e Pitorescos de Caruaru” de Rosalino da Costa Lima e Zacarias Campelo, um registro do ano de 1892.

Pela não existência de fotógrafos na cidade na época, e a dificuldade de revelar as fotografias, talvez seja mais uma de autoria do fotógrafo francês Francisco Du Bocage, do dia 31 de outubro de 1895, um dos integrantes da primeira viagem de trem à Caruaru, naquele dia e, juntamente, com a da Rua do Comércio, onde aparece a igreja de Nossa Senhora da Conceição com somente uma torre, as duas fotografias mais antigas de Caruaru. Mas, o certo mesmo é que se trata de uma fotografia do século XIX.

A foto nos mostra em destaque o belo sobrado do Major João Salvador dos Santos, primeiro prefeito constitucional de Caruaru, erguido entre 1857 e 1858, pelo Mestre Chiquinho, localizado na Rua Sete de Setembro e, por muitos anos, chamada Rua Major Salvador.

Em 1856, com a situação, comanda pelo cel. João Vieira de Melo, extremamente desgastada por conta da epidemia de cólera entre final de 1854 e meados de 1856, foi eleita em 07/09/1856, uma nova Câmara predominantemente oposicionista, com o major João Salvador dos Santos, com 608 votos, sendo o mais votado, ficando o coronel João Vieira, com 498 votos, apenas com o quarto lugar. A posse dos novos 07 vereadores aconteceu 03/02/1857, com os vereadores até então situacionistas não assumindo, numa tentativa infrutífera de desclassificar por corrução o resultado da eleição.

Aconteceu, no entanto, logo após a nova situação comandada pelo major, enfrentar uma nova praga, era a Bixiga Mortífera, chamada pelo povo de Bexiga Lixa, o que ocasionou, a exemplo da epidemia de Cólera, novamente os vereadores se desinteressaram pela coisa pública, para cuidar de si e da família e como consequência quase natural, uma elevação dos preços dos insumos básicos.

De tudo isso, da carestia de vida, da praga da bexiga lixa, do descaso dos vereadores, comandados pelo major João Salvador, se aproveitou o coronel para novamente se reerguer na política do lugar, se aliando na capital à correte político-partidária do célebre Dr. Paula Baptista, deputado provincial dos mais atuantes em Pernambuco nos idos imperiais. Graças a tal aliança, o próprio Dr. Paulo Baptista, que até então somente conhecia Caruaru por ouvir dizer, tomou como sua causa o pleito do coronel e apresentou, em abril de 1857, projeto de sua autoria propondo a elevação da Vila para a categoria de cidade, publicado na edição de sábado do Diário de Pernambuco de 11/04/1857, da seguinte maneira, entre outros:

São lidos, julgados objetos de deliberação e mandados imprimir, os seguintes projetos:

A Assembleia Legislativa de Pernambuco resolve:

Art. 1. A Villa de Caruarú fica desde já elevada a cathegoria de cidade.

Art. 2. Ficam revogadas as disposições em contrário.
Paço da Assembleia Legislativa Provincial de Pernambuco, 3 de abril de 1857. Dr. Paulo Baptista.

Projeto, como todos sabem, aprovado no dia 18/05/1857.

Não concordando com o fato, que considerava apenas uma vitória do grupo vieirista, o major João Salvador dos Santos, tomou logo uma decisão, considerada por todos como uma vingança e de poderio sobre o rival, começaria a edificar, no ponto mais central o mais elevado prédio do lugar, cujo sobrado maior, pertencente ao coronel João Vieira de Mello, era apenas de um andar.

O seu, seria de dois andares, o primeiro da cidade e “durante um bom tempo, o centro nevrálgico da vida política de Caruaru, de onde saíram muitas decisões acerca da sociedade local”.

Neste local também funcionou o “Gymnazio de Caruarú” (atual Colégio Diocesano), a Academia de Comércio (1º Curso de Contabilidade da cidade) e o Colégio Sete de Setembro.

Hoje, embora ainda existente, o sobrado, de tantas histórias, encontra-se descaracterizado.


A ORIGEM DAS FAMOSAS FESTAS DE NATAL DE CARUARU

O primeiro registro das comemorações do Natal em Caruaru data do dia 31 dezembro de 1800, na virada do século 18, quando José Rodrigues de Jesus, já tendo transformado a fazenda em povoado, resolveu realizar, na Capela da Conceição, os referidos festejos, que logo se tornaram no maior acontecimento sócio religioso da região, com novenário, entretenimento com zabumba, foguetório, reisado e outros.

O povo da redondeza pretendendo afluir para a Rua da Frente - Rua do Comércio - para participar das festas, dizia ir para as "Terra de Zé Rodrigues".

Nas anotações do famoso "caderno" de José Rodrigues consta: "No ano de mil oitocentos e sete para festejos a N. S. da Conceição, fiz de despesa a saber: cera e pólvora, vinte e oito mil e centos réis, e dez mil réis que paguei ao padre Nemézio de São João Gualberto para toda a festa".

A partir de 1820, após a morte de José Rodrigues de Jesus, as festividades passaram a se realizar com a denominação de "Festa do Caruru".

Após Caruaru ter se tornado vila em 1848, mudou o nome para "Festa da Mãe de Deus", tendo assim permanecido até final do século XIX.

No século XX, mais uma mudança "A Festa da Conceição".

Em 17 de dezembro de 1933 surge pela primeira vez no Jornal Vanguarda a expressão "Festa do Comércio".

Em 1940 acontece pela primeira vez a iluminação da fachada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Em 1949, com a chegada de D. Paulo Hipólito de Souza Libório, o primeiro bispo tentou, sem sucesso, mudar o nome para "Festa de Ação de Graças".

Finalmente em 1950 o bispo pretende encerrá-la, ficando por sua ordem a Igreja fechada e sem sua tradicional iluminação até 1953, funcionando somente a parte profana da festa.

Mas foi somente a partir desta época, quando aumenta o apoio e participação dos comerciantes local e atrativos diversionais que a denominação de "Festa do Comércio" passa a ser usada oficialmente.

Da época áurea dos festejos, destacavam-se as retretas das bandas Nova Euterpe e Comercial com torcidas distintas, cadeiras nas calçadas, familiares e amigos em confraternização, barracas do Comércio Futebol Clube, do Clube Intermunicipal, do Central, concursos de calouros e shows com grandes nomes da música, pastoril, o famoso passeio no "quem-me-quer", barracas de jogos de azar, carrossel e a famosa "Divulgadora de Anúncios" de Lorega, além da magistral iluminação de Manoel Teixeira, o "Mago da Luz", que dentre outros atrativos e costumes, constituíam o cenário incomum da "Festa", transformando-a numa das mais agradáveis páginas da história de Caruaru.


ENERGIA ELÉTRICA EM CARUARU

A primeira vez que se acendeu lâmpadas elétricas em Caruaru foi no dia 01 de dezembro de 1895 no prédio onde funcionava a prefeitura e nas suas adjacências, onde anos depois seria montada a Casa Samí do comerciante José Cantídio de Lira - proximidades da atual Câmara de Vereadores - durante baile comemorativo, por ocasião da inauguração oficial da estrada de ferro Recife/Caruaru. Embora tenha sido uma iluminação provisória e deficiente, desde que nas adjacências do prédio necessitou reforço com rústicos lampiões que funcionavam a base de óleo de carrapateira.

Em janeiro de 1913, no prédio de propriedade de Antônio Rodrigues da Costa, concunhado do Major Sinval, vizinho da famosa Pharmacia Franceza, foi montada uma padaria, provavelmente o primeiro prédio privado da cidade dotado de energia elétrica - gerador próprio - cujo principal destaque era uma lâmpada na fachada de 500 watts - além de algumas outras internas - atraindo curiosos e compradores para o “pão elétrico”, como ficou conhecido o local. Nessa ocasião, o senhor Antônio Costa também disponibilizou a energia elétrica para todo o quarteirão a preços módicos. Porém, nem todos usaram a “luz da padaria” alegando se tratar de um luxo excessivo.

A iluminação pública de Caruaru à base de energia elétrica, foi inaugurada no dia 24/11/1918, um domingo por volta das 16 horas, no governo do prefeito João Guilherme de Pontes (1916 - 1919), com bênção solene pelo pároco Luiz Gonzaga. A montagem da usina, que aconteceu em prédio construído especificamente para esse fim, no Cafundó, e a distribuição da rede elétrica ficaram a cargo do engenheiro suíço Frederico Gross, funcionário da empresa recifense contratada Alfredo Silva & Cia. para os serviços. Foi uma iniciativa da prefeitura, ocasião que foram contempladas apenas as ruas centrais e um pouco menos de cem ligações domiciliares.

Houve, nesse dia, grandes festas abrilhantadas pela banda musical Nova Euterpe, com a efetiva ativação da usina por volta das 18 horas. Ainda à noite, ocorreu um banquete no Paço Municipal - onde atualmente é o Palácio do Bispo, embora antes de ser sido reconstruído, era um prédio térreo e bastante simples - no qual tomaram parte membros da sociedade local, representante do governador, chefe da polícia estadual, comandante da região militar e outras autoridades, seguido de um baile comemorativo que se desenvolveu até 1 hora da madrugada do dia seguinte.

Todavia, com o rápido desenvolvimento da cidade, o aumento do número de ruas, pontos de iluminação e novas ligações domiciliares, a iluminação tornou-se precária. No ano de 1925, no final do mandato do prefeito Celso Galvão, com a substituição de parte da rede de distribuição, a luz se tornou novamente intensa e constante, acabando com os apagões frequentes.

Por outro lado, a distribuição diurna de energia elétrica, inicialmente na Rua 15 de Novembro, Praça João Guilherme, Rua da Matriz e mais algumas artérias centrais, aconteceria somente após as instalações de novas redes de distribuição no ano de 1939, graças a novos geradores de propriedade da firma José de Vasconcelos & Cia., cujo proprietário foi também o fundador da famosa indústria de tecelagem Caroá.

Como uma consequência quase natural da melhora significativa dos serviços de distribuição da energia elétrica, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e toda Rua do Comércio passaram a ser iluminadas, isso a partir do ano de 1940, para as festas de Natal, através de trabalhos que pela sua beleza e qualidade, muito se destacou o senhor Manoel Teixeira Sobrinho, o mago da eletricidade.

A iluminação da igreja da Conceição na nossa cidade, viraria um acontecimento tão tradicional, que mesmo após a extinção da Festa do Comércio em 1988, com a mudança da feira e reurbanização do espaço, a igreja continuaria a ser iluminada.

A iluminação da igreja, foi interrompida apenas no ano de 1949 e nos primeiros anos da década de 1950, por imposições do primeiro bispo da cidade, Dom Paulo Hipólito de Souza Libório.

Na década de 1950, devido ao grande crescimento da cidade, novamente com a iluminação de mais ruas e novas ligações domiciliares, voltariam a acontecer problemas e falhas na distribuição da energia elétrica.

Finalmente, com a chegada no mês de dezembro de 1955 - a inauguração oficial aconteceria no dia 06 de fevereiro de 1956 - da energia proveniente da hidroelétrica de Paulo Afonso - CHESF, a distribuição de energia elétrica em Caruaru seria definitivamente equacionada.


EMISSÃO DE DINHEIRO EM CARUARU EM 1917

Como sabemos, a emissão de dinheiro é uma atividade regulada pelo Governo Federal, através do Banco Central.

O interessante é que essa regra “não valia” para Caruaru.

No ano de 1917, durante o segundo governo do cel. João Guilherme de Pontes (1916 - 1919), a prefeitura de Caruaru emitiu uns vales, verdadeiro “papel-moeda”, com valores de face estampados de 100, 200, 500 e 1.000 réis.

As notícias davam conta da emissão de aproximadamente 16.000$000 (dezesseis milhões de réis) e que os possuidores do “novo papel-moeda” poderiam trocá-lo por dinheiro de verdade, somente quando acumulassem vales na mão com valores de 10$000 (dez mil réis) e com um deságio de 2%.

A verdade é que algumas outras prefeituras do interior do estado também chegaram a emitir esse “dinheiro”, com a concordância do Governador do Estado da época Manoel Borba, mas Caruaru foi de longe o maior emissor de “dinheiro”, que apenas cessou depois de uma grita muito grande através da imprensa.


QUANDO FOI FUNDADA A 1ª BIBLIOTECA DE CARUARU?

A primeira Biblioteca Pública de Caruaru foi fundada no dia 01 de julho de 1917, no governo do cel. João Guilherme de Pontes, como uma inciativa do secretário Henrique Pinto, que lhe sucederia como prefeito na gestão seguinte.

Todavia, a 1ª Biblioteca de Caruaru, privada, mas aberta para o público, foi fundada em março de 1883, por inciativa do tenente José Francisco Paes Barreto, também seu primeiro presidente, quando foi fundado o CLUB LITTERARIO CARUARUENSE .

Faziam parte desse clube pessoas como Juvêncio Mariz, Cel. João Vieira de Mello, a esposa do farmacêutico francês Jean Pegot - Donaninha, o tabelião público Gregorinho, que certa ocasião, eleito vereador - não precisava ser necessariamente candidato, bastava ser votado - agradeceu a honraria, mas não aceitou, afirmando que por ser já servidor público (tabelião) não seria ético acumular com o cargo de vereador – e vários outros, além da senhora Maria Pinto Vieira de Mello, conhecida por dona Sinhá, segunda esposa do cel. João Vieira, mãe do primeiro ministro caruaruense Alfredo Pinto e primeira pianista da cidade.

Esse clube literário, no ano de sua fundação em 1883, tinha 70 sócios efetivos e mais de 200 honorários.

Nesse clube onde se declamava poesia, apresentavam músicas (Juvêncio Mariz era considerado um bom compositor, juntamente com seu concunhado o tabelião Gregorinho), tinha uma tribuna onde eram realizadas explanações e conferências diversas, além de uma Biblioteca com mais de 300 exemplares e vários números de jornais. Nas suas dependências, aconteciam após as apresentações literárias, bailes dançantes, que duravam, vias de regra, até às 5 horas da manhã seguinte, isso, em uma época que não existia energia elétrica. Ou seja, o CLUB LITTERARIO foi também o primeiro clube social da cidade.

O CLUB LITERÁRIO mantinha duas escolas noturnas, uma para moças e outra rapazes, com o intuito de difundir cultura e conhecimentos para a população.

O conselheiro Rosa e Silva, do Recife, maior liderança de Pernambuco na década seguinte, que era um dos sócios honorários do clube, doou vários livros para a Biblioteca, além de ofertar 50$000 (cinquenta mil réis), anualmente, para serem doados, como prêmio e incentivo, aos dois melhores alunos das escolas.

Fontes dessas curiosidades sobre Caruaru - PE: Hélio Florencio - Caruaru Arcaico (Facebook), José Torres, Jonas Torres, Luiz Teófilo.


Entendam o feriado 

Raffiê Dellon

Caruaru também tem sua “Data Magna”! E também foi em Março! Vamos relembrar?!

1º de Março! Autonomia Municipal de Caruaru!

Poucos sabem/comemoram, mas, 1º de Março tem um significado muito importante para o País de Caruaru. Foi nessa data, em 1893, que o primeiro Prefeito de Caruaru, o Major João Salvador dos Santos (no registro, sentado, de pernas cruzadas), eleito com 356 votos, declarava a Autonomia do nosso Município. João Salvador foi um brejeiro de grandes posses, produtor forte de café em grãos.

Antes dele, o Coronel Manoel Rodrigues Porto, Cel. Neco Porto, tinha ganhado um Pleito, mas, naquela época, toda eleição que tinha ocorrido na Província (Estado), tinha sido anulada. Depois disso, ainda antes do Major João Salvador ser eleito, o Coronel Juvêncio Taciano Mariz chegou a ser eleito Prefeito e assumiu por quatro meses, sendo afastado pelo Governo Estadual sob alegação que "determinados preceitos constitucionais" não tinham sido atendidos. Dessa forma, Juvêncio foi o único Prefeito cassado da história da nossa Cidade.

Que a gente comemore essa e outras dezenas de datas que sejam criadas/lembradas, todas em homenagem a melhor e mais apaixonante Cidade para se viver. #PaísDeCaruaru #NossaHistória#JoãoSalvador

Fonte: Jad Ramos